De Bernardo Mello Franco da Folha de S. Paulo
Porta-voz de temas da moda, como o ambientalismo e o consumo consciente, a senadora Marina Silva (PV-AC) virou a queridinha dos artistas na corrida presidencial.
Ela tem atraído a adesão de estrelas desiludidas com o PT, que não se animam a votar na candidata do presidente Lula, Dilma Rousseff, e rejeitam o PSDB de José Serra.
O movimento, espontâneo, é encabeçado pelos doces bárbaros Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Em 2002, todos apoiaram Lula contra Serra. Oito anos depois, decidiram “marinar”.
“Marina é novidade com beleza. É disso que artistas gostam”, diz Caetano. “Não dá para ver uma mulher tão elegante, coerente, sincera e honesta e não querer dar-lhe o cargo mais alto”.
Depois de definir a senadora como uma mistura de Lula e Barack Obama, o cantor diz que ela representa a “continuação do amadurecimento político brasileiro”, um passo além de Lula e Fernando Henrique Cardoso.
“Votar em Dilma por lulismo é regressão. Votar em Serra pode representar apreço pela alternância do poder, mas é não querer sair do elenco já dado”, justifica.
Ministro da Cultura de Lula por cinco anos e meio, Gil foi a estrela da festa de lançamento da pré-campanha de Marina, domingo passado.
Cantou, chamou a senadora de “cabocla decidida e dedicada” e afirmou que ela encarna a “dimensão espiritual profunda do nosso povo”. “Meu coração pediu assim”, resumiu ele, filiado ao PV.
VOTO DECLARADO
Avessa aos palanques, Bethânia quebrou uma tradição para declarar a escolha. “Não escondo de ninguém que meu voto é dela. De Marina e da floresta amazônica”, disse, via assessoria.
Ela já havia indicado a preferência em outubro passado, em entrevista à revista “Bravo”. “Marina me arrebata. É nobre, firme, sóbria e passou pelo governo federal sem se manchar”, disse.
“Jurei que não votaria mais em candidato nenhum, nem do Executivo nem do Legislativo, mas a Marina talvez me anime a voltar atrás.”
A quarta integrante dos Doces Bárbaros, Gal Costa, não respondeu. Em 1989, ela cantou o jingle “Lula-lá” na TV. Hoje, diz uma assessora, prefere não falar de política.
A “onda verde” contagia outros expoentes da MPB, como a cantora Adriana Calcanhoto, que cantou e discursou na festa da pré-campanha em Nova Iguaçu (RJ).
A presença dos artistas indica que Marina deve explorá-los fartamente no horário eleitoral gratuito. Em 2008, o PV usou e abusou de Caetano na campanha de Fernando Gabeira à Prefeitura do Rio. Na reta final, o cantor parecia ocupar mais tempo dos programas que o candidato.
A ausência de Lula, que concorreu nas últimas cinco eleições presidenciais, favorece a migração dos artistas. Mesmo os mais fiéis ao presidente, como Chico Buarque, admitem não sentir grande entusiasmo pela candidata que ele escolheu.
“Vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula. Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença. Não vai fugir muito do que está sendo traçado aí”, disse, à revista francesa “Brazuca”.
No fim de abril, o maestro Wagner Tiso convidou artistas para um café com Dilma no Rio. O evento foi pouco concorrido. Assinaram a lista de presenças a atriz Cristina Pereira e o sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz.
Apesar do crescimento nas pesquisas, a petista enfrenta resistência semelhante no meio acadêmico. Intelectuais que votavam em Lula, como Leandro Konder, Chico de Oliveira e Aziz Ab’Saber, anunciaram apoio a Plínio de Arruda Sampaio (PSOL).
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